Sonetos sobre voos mais altos I
O sol nasceu para todos
Dando de beber aos que precisam
Eu bebo luz, terra e ar
Para poder contemplar
A segunda esperança raiar
O regozijo de alegria que ecoou da África
O calor humano nos esquimós da Antártida
O grito de liberdade que reverberou da China
Com o sorriso autentico germânico, rima
Eu pude ver
A tolerância dos árabes
O altruísmo norte-americano
A honestidade do Brasil
A humildade argentina
Eu pude ver
Dentro de mim
A natureza surgir
A fé germinar
Em meio a uma salada química
A majestosa máquina humana produzir vida
Para florescer amor
Sem armas de destruição em massa
Sem canhões e artilharia pesada
Não tiremos de ninguém
O que recebemos de graça
A contracultura nos deixará forte
Dê de comer a quem lhe falta a sorte.
Sonetos sobre voos mais altos II
Quero viver entre os tibetanos
Fumar um cachimbo da paz com os Pano
No cimo das montanhas andinas
Tocar zamponha com os Incas
No solstício da primavera celta
Reler antigos escritos da cultura gaélica
Em Akakor, El dorado e com os chachapoyas ter
No vale sagrado, entre ruinas me perder
Dos ritos Astecas e da sabedoria Maia
Desço ao Amazonas vindo do Himalaia
Pra beber do voo do tucano
No terreiro Arara
Pra entender que não sou nada
Nem o melhor, nem o pior
Nem o primeiro, nem o ultimo
A aprender com o rapé,
Yagé
Pela correção da sananga passar
Estou limpando meus olhos para ver o mar.
Sonetos sobre voos mais altos III
Quero receber orientações
No mapa das constelações
Desenhar o zodíaco
Na melodia do meio dia
Da meia noite
Na quietude e no intermezzo sinfônico
Eu me encontro
Do lado de quem mais amo
Onde o mendigo encontrou o pão
Onde tinha uma Maria para cada João
Onde tinha uma chegada para cada partida
E um remédio para sarar cada uma de nossas feridas
Sonetos sobre voos mais altos IV
Mas onde abundou o pecado superabundou a graça
graça até para os que humanizaram Deus
sejam eles gentios ou judeus
para quem achou que O enclausurou em artefatos
e com indulgencias pagou pecados
Graça até para os que venderam o perdão
E para os que o que não quiseram pra si fizeram aos seus
irmãos
Feche os olhos para isso e os abra para o que é
transcendental,
da quintessência, o essencial
abra a porta para o psicodelismo
a verdade está lá fora, o riso
saia de si para finalmente entrar
regressar para o velho, agora novo lar
o amanhecer nas muralhas
a teoria é das cordas
mi, si, sol, lá bemol
Dó, ré com fá sustenido
o coro das crianças faz sentido
os atabaques baianos
a fé islã do Hamas
o código de honra dos samurais
a cultura milenar
o perfume do âmbar
Sonetos sobre voos mais altos V
Chove nos teus cabelos
teu peito travesseiro
teu abraço um teto
onde deito e fico quieto
penso, não sei ao certo
mas vale a pena esperar
vale a pena ter fé e persistir
até o tsunami sumir
ouça os vulcões
reflita nos terremotos, maremotos
a natureza quer que saibamos
que vivos estamos
Agradeça pela gota de orvalho no centro da folha
espelho e janela para a alma, ostra
se Deus cuida até dos passarinhos pardos
quem dirá do cãozinho desabrigado
mas afague um gato
regue uma planta
Batize-se na chuva e no solo se firme
deite-se na grama para contemplar o arco íris
saboreie uma fruta
polinize seu coração
com a doçura do mel
beije, como beija o beija-flor
tome leite e tome chá
Chacrona
assobie pra chamar o vento
passeando como se já estivesse tido ali
colhendo mariri
no Céu do Mapiá
acolá, no cinco mil
tire suas mãos sujas
e suas leis corruptas
sua historia sangrenta e inglórias
deixe em paz a boa erva
o elixir da criatividade
da sabedoria indígena, encarne
Sonetos sobre voos mais altos VI
Entre bilhetes e as passagens
suba a bordo sem bagagens
deixe as mazelas
citronela
sinta o fogo arder
queime suas mágoas
rancores e dissabores
regue as flores
rastele a areia do jardim japonês
tire a neve da calçada como um bom polonês
esqueça um pouco do que aprendeu na escola
aprenda com a vida aqui e agora
aprenda a cantar como um sabiá
aprenda a recomeçar com as formigas, o formigueiro
das sementes de laranjas, o laranjeiro
da elegância, a calda do pavão
aprenda lealdade com um cão
aprenda a agradecer o que a vida lhe trás
O silencio se fez ouvir aos pés dos Moai
Da molécula de Deus que me contamina
Dimetiltriptamina
Chave para os baús secretos
Dos quebra-cabeças o mais complexo
De tudo o que ecoa
Das vibrações e das cores
Dos acordes e sabores
Do supra sumo e do visceral
Do etéreo e do temporal
Que encheu o rio
A terra
Coloriu as arvores
Deu novas canções ao curió
Do café da manhã na senzala
Apanhar o arroz e levar pro paiol
Por mais uma isca no anzol
Pra pescar a esperança, o amor e a paz
Carregue consigo só o que lhe apraz
Sonetos sobre voos mais altos VII
No caleidoscópio eu vi uma mandala
Do cipó de fogo e das portas douradas
A citara do velho cancioneiro
Da borracheira, o seringueiro
E das pirâmides do Egito inteiro
Vishnu, Buda, Nirvana
Das conversas de varanda
Dos domingos a tarde
Do aperto de mãos
Tudo começa com grãos
Leve na sua canoa luz, paz e harmonia
Do holístico as terapias alternativas
Gaste seu tempo evoluindo o que é seu de verdade
A sua essência, o seu espirito
O resto é concessão, um empréstimo
Vai chegar o dia que você devolverá a terra
O que é de terra
Seu corpo adubará outras cipós e ervas
E seu espirito voltará para seu criador
E já não haverá mais choro, nem pranto e nem dor
porque todas essas coisas já terão passado
do que restou?
o futuro que ainda não passou
mas que por hoje, me aterrissou.
De volta a física existência
Só que agora, plantando consciência.
Izaú Melo
Izaú Melo