Uma noite em Shanghai




A realidade não é uma coisa fácil de se entender.
Um único planeta, vários mundos...
Vai saber, vai saber!
Estive pensando sobre surpresas.
Honestamente, rejeito amarras.
Aceito sim, cenários ideais
De uma realidade ideal, não a real.
Acendo meu cigarro,
Estou na saída do aeroporto de Shanghai,
São exatamente 16:36 
Ao certo não sei se esse é o horário certo.
Cansado,  horas de viagem,
Espero escolher logo um taxi e partir.
Estive ali, pensando urgentemente em fugir.
Corro, jogo o cigarro no chão.
Na porta, divido a maçaneta do carro 
Com a mão de uma outra pessoa,
Uma mão suave e macia...
Não é desconhecida.
Meus olhos percorrem todo aquele braço 
Sinto o arrepio do intenso inverno pampeiro e quando percebo
Nossos wayfarers se encontram.
Me vi naquela lente,
Sorriso inevitável...
  • - Você por aqui? (Um sorriso de felicidade incrédula)

  • - Bueno ver-te  (Com o sotaque portenho inconfundível)
A inconstância da surpresa,
A hora que o acaso comanda...
Sem determinações simultâneas,
Aleatório, porém objetivo...
Penso que nosso amor é mais bonito assim,
Esquecido na surpresa,
Em lugares inusitados,
Sem planejamentos.
Dividindo um taxi para qualquer lugar
Onde possamos, em segredo, 
Viver o que de melhor temos.
Não precisamos falar
Pois muito tempo se perde
E muito se perde
Quando a necessidade de verbalizar
É maior que a necessidade de viver.
Então, dane-se as palavras,
Uma noite em Shanghai 
Outra daqui 10 anos,
A próxima, quem sabe, depois de 20...
Em que parte do mundo?
Vai saber, vai saber! 

Chalil Costa