Parecia que o tempo não passava nunca.
Mas passou.
O tempo sempre passa...
Há quase uma hora que eu olho pra essa folha em branco
E faço algumas reflexões incontidas
Da ausência do amor e da sobra da dor, nasceram os poetas;
Percebo que quem encontra sentido pra tudo no sexo não precisa de poesia.
Eu sempre me denuncio, quando escrevo coisas sem sentido.
É assim que me comporto quando não decifro nos teus olhos nenhuma promessa ou convite.
Lembro que passei algumas horas contigo, lembro que saímos; que jantamos; que rimos; que passeamos; lembro que ficamos alguns minutos olhando um pro outro em silêncio...
Lembro também que... Minto! Não consigo me lembrar de mais nada,
Se houve ou não beijo, se houve ou não abraços e promessas que não conseguiríamos cumprir.
O fato é que não me lembro de nada
Embora tente desesperadamente acrescentar mais um detalhe,
Eu gosto de mentiras e do poder sedativo e alucinógeno que elas possuem,
Mas sei exatamente quando uma lembrança começa a deixar de ser lembrança para se tornar imaginação.
Eu finjo que não sei como isso acaba
Que não consigo lembrar mais que isso
Talvez se contasse a alguém eu acrescentasse ou valorizasse algum detalhe, igual ao pescador que não pescou ninguém e nem por isso deixou de se exaltar.
Seria bonito dizer, por exemplo, que aquela noite não terminou, que você não partiu..
Que o espelho do teto testemunhou o estado de Buda do nosso amor
Mas não direi nada a ninguém.
Nada além de que estou enlouquecendo, vendo você nas pessoas.
E que toda vez que você passa deixa um pedaço seu e leva algo meu
E depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é teu
Da minha parte eu já teria ido embora
Na tentativa de fugir dessa insanidade que me devora
Eu iria pra Pasárgada, se fosse amigo do rei.
Se tivesse a mulher que quero, na cama que eu espero,
Com você eu ficaria
E tudo certo estaria
Em três ou quatro tons de cinza
Outra vez.
Izaú Melo