Quando te ligar de madruga
Não espere palavras
Não espere gracejos
Manifestar-me não é meu desejo
Darei apenas um toque
Para que o despertar não te force
Não quero perturbar-te o sono
Para os queixumes do meu crível incômodo.
Quando te ligar de madrugada
Não espere mais que uma chamada
Da minha vil debilidade não quero o ensejo
Nem dos meus tristes olhos mais que o marejo
Quando submerso, te faço salva vidas
Porto seguro para minha lamuriosa lida
Perdoe-me se te faço às vezes de norte
Quando, tolo, ouso navegar a própria sorte.
Quando te ligar de madrugada
Não te impressiones com meu baú de mágoas
Não te preocupes se em algum lugar estou a adejar
Se o meu espírito, o teu espírito quer encontrar
Não tentes me entender
Não te turbes em resolver
É mais forte do que eu, do que o real, do que a farsa.
Queira perdoar-me se os meus olhos, nos teus olhos encontrou graça.
Quando te ligar de madrugada
Não abra os olhos para verificar a chamada
A intenção não é contigo falar
Mas sentir que ao teu lado, por um segundo, eu possa estar.
Não sobre uma cômoda, estampando uma mensagem de texto.
Todavia uma chamada perdida embaixo do seu travesseiro
A segurança manifesta, no momento mais preciso
Quando sozinho no escuro, caminhar não consigo.
Quando te ligar de madruga
Não espere palavras
É que às vezes eu estou bemol... quando deveria estar sustenido
E te faço meu sol maior quando nada mais faz sentido
Se temes o “mal entendido” transliterado em metáforas
Não temas, pois virá o fogo refinador da alvorada,
Como rosas proibidas que desabrocham ao entardecer
Sentimentos errados deveram ao fogo ser lançados logo ao amanhecer
Além do véu, do céu, de um tão venerável beijo
Peço-te unicamente que descanse em paz, os meus simplórios segredos
É só um desvairo até que eu possa adormecer
Quando essa chuva passar, talvez possamos entender
Tudo o que eu sentia... enquanto você dormia...
Izaú Melo
Quando te ligar de madrugada
16:14:00
Izau Melo †