Em luto


Poderia apenas ficar em silêncio e deixar que o tempo me levasse ao esquecimento
Mas por honra a todos os leitores que se identificam com a coluna Izaú Melo
Estou declarando aqui que passarei um tempo sem escrever
No dia 10 de maio a minha última grande inspiração caiu
e eu não posso deixar que morra sem ao menos fazer o meu luto
Ontem olhei as minhas postagens, da primeira a última e vi em cada texto um pedaço de alguém que significou muito pra mim
Por ironia do destino todas elas se foram, e talvez não tenha sobrado nada de mim dentro delas
essa última não quero deixar ir, mas não consigo me sentir bem escrevendo para o que é dos outros
Vou dar um tempo do trovadorismo
Continuarei alimentando o blog, com poemas dos imortais e certamente Chalil Costa continuará escrevendo, e eu quem sabe, alguma coisa natural que possa escrever sem pensar em ninguém
O verão chegou e o meu deserto também
Vou deixar de lado, por enquanto, a poesia...
Reativar os velhos projetos de teatro, música e teorias
Vai ser um tempo que eu vou ler bem mais e escrever bem menos
Será bom pra mim, talvez eu volte menos clichê e menos paupérrimo nos sentidos
Agradeço aos inúmeros comentários que recebi
Lamento que vocês não saibam o que realmente acontece pelo lado de dentro
mas há um mundo lá fora esperando por mim
Que pode me dar mais, consumindo menos
Retiro disso todo o sensacionalismo
Não sei quanto tempo durará o meu luto
O último durou sete meses e meio
Esse talvez mais, talvez menos
Não depende de mim
Deixo-vos um legado de 52 textos publicados
e enquanto ouço “estudo em mi menor" do Chopin
Escrevo a vós um último pensamento

Poderia procurar as palavras mais belas esta noite
Para escrever o melhor de todos os textos
Mas desta vez não tenho interesse
E finalmente compreendo que a insensibilidade é uma dádiva
e a felicidade só existe pra quem se basta a si
Escrever é uma maldição
Nunca vi um poeta viver feliz
e antes de morrer ter glória
O certo na sua vida é se apaixonar pelas mulheres erradas
e o valor dos seus poemas é não valer nada.


Izaú melo
madrugada do dia 17 de maio