Um vôo raso por sobre o profundo oceano
De dor, de solidão, de insignificância.
E pouso sobre o silêncio de uma lágrima esquecida
Uma asa ferida, um amor lutando contra própria extinção.
O sol quase se pondo e eu sou só mais um ser que respira
Um trovador solitário
Que amava amar minha amada
Que era feliz mesmo sem ser amado
Eu a amava como amava um beija-flor
Que dá todo amor a uma única flor que desabrocha para recebê-lo
Eu cantava como canta o canário
Em qualquer cenário, no desconforto da gaiola ou no prazer de um galho.
Nunca quis muito apenas um pouco de atenção
Que ela ouvisse minha canção
Vive ela sem mim, mas não vivo eu sem ela.
Como uma bromélia nos altos de uma árvore
Hoje me afogo na solidão do presente
E me salvo nas lembranças de um passado que eu não sei se voltará
Quando havia nela, o prazer em ouvir minhas prosas.
Preciso me reencontrar, para recomeçar.
Refazer meu universo
Minha amada, meu violão, um pedaço de pão, a certeza do fim.
À distância a manteve afastada dos meus olhos, das minhas mãos.
Mas nem a morte pode afastá-la do meu coração
Um coração que só bate em razão de amar
De uma mente que só trabalha em função de lembrar
De um par de olhos que só se mantém abertos em função das lágrimas
Lágrimas que são como o vento
Invisíveis, porém que podem ser facilmente percebidas.
Lágrimas que perduram desde que a vi e não fui visto
Queria poder abraçá-la, sentir seu perfume, dizer que o amo.
Mas se antes as ruas nos separavam
Agora a razão, a indiferença, as fronteiras.
Ah! Se eu pudesse esquecer
No entanto é mais forte que a borracha do sono
É mais forte do que eu
Estou preso às verdades que quero que sejam mentiras
E as mentiras que quero que sejam verdades
Do contrário, sou alguém observado pelas nuvens.
Querendo se jogar do vigésimo andar
Com a certeza de que elas não vão contar a ninguém
Daqui, a imagino em seus aposentos.
No silêncio do seu abajur, no prazer do seu leito, no calor do seu lar.
Escapa-me um sorriso quando lembro das nossas bobagens, das confissões.
Sei que ela pensa em mim, que também ri, que um dia chorou.
Mas ela é a boneca da vitrine
E eu o menino colado ao vidro
Que deveria estar encantado com as luzes do natal
Mas meus olhos só olham os seus olhos, o seu sorriso, o seu corpo.
Queria deitar, dormir, sonhar com ela.
Beijando-a, acariciando seu rosto.
Mas os meus sonhos me privam do impossível
E essa sensação de prazer é só o vento que sopra vindo do mar
O sol já se foi, todas as aves já se recolheram.
Acredito que já é chegada a hora de revoar
Apesar de não ter para onde ir, sei que não quero ficar.
À noite já caiu e eu sou só mais um que ama
Sem possibilidades de ser correspondido
Um pedaço do que ficou... Próximo do distante
Implorando por um pouco de atenção
Eu canto como canta o irapurú.
De dor, de solidão, de saudades do que não chegou a acontecer.
Há quem ouça e goste do meu canto
Mas cada acorde é um pedaço de mim que se desfaz
Um sacrifício que não tenho domínio, que não tenho escolha.
Que não pedi para passar, que não há como fugir.
E quando de mim só restar o silêncio
Só o mar e a noite serão testemunhas do meu nobre fracasso.
Izau Melo
O trovador Solitário
15:50:00
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