Depois de um dia cansativo de trabalho, quando chega à noite e tudo o que nos espera são pequenas horas de descanso e a certeza de que amanhã será totalmente igual, só nos resta deitar, e ficar pensando o que faríamos se pudéssemos mudar o rumo e o sentido das coisas, é sempre bom agarrar o travesseiro e tentar imaginar o que faríamos se tivéssemos 24 horas de total poder sobre as coisas e as pessoas, ainda mais sendo como eu, que gosto de dormir ouvindo o barulho da chuva e pensar em tudo antes de dormir...
Há essa hora posso simular situações e contar pro vento os meus pequenos grandes sonhos... queria te encontrar assim, num dia frio, bom para caminhar, te encontrar dentro de uma Biblioteca, comendo batatas fritas e estudando libras, tudo o que eu queria era algo do Pessoa ou do Neruda pra tentar me inspirar, no entanto, tive mais que isso, mais do que o que eles tiveram para escrever, a visão do paraíso, uma linda mulher, de cabelos castanhos claros, (brinquedo predileto do vento), um sorriso largo e encantador, rostinho de criança, com traços artísticos divinamente inspirados, escondidos por trás de um óculos de uma dessas marcas famosas. Usava calça jeans e havaianas, tudo tão natural e ao mesmo tempo mais elegante que os vestidos das senhoritas ricas de dois séculos atrás. No primeiro olhar senti que faltou o chão, no segundo olhar o coração acelerou a tal ponto que senti meu sangue correr veloz nas veias como se fosse em uma pista de autorama, respirei fundo pra que não tivesse um troço e ai senti falta do suco ruim de beterraba que minha mãe sempre quis que eu tomasse pra que eu me sentisse forte. No terceiro olhar, nossos olhares se cruzaram, ai, se existe cupido ele já não usa flecha, e sim uma escopeta de cano duplo, e não atira mais no coração e sim nos olhos e no cérebro, bem naquele cantinho que onde fica a razão e o equilíbrio, porque de tanto te olhar, tropecei numa estante, espatifei livros, chutei um vaso de plantas e derrubei alguns quadros decorativos, nesse momento aparecia você, se eu tivesse vergonha, teria ficado na hora, mas você riu e disse: “Não se preocupe, eu também sou super desastrada.” A partir daquele momento acreditei no amor a primeira vista, você saiu da biblioteca, pensei em te deixar ir e guardar esse momento no meu relicário sentimental, mas não, tomei coragem e fui ao teu encontro, falei qualquer coisa a respeito do tempo e ou do trânsito complicado do fim da tarde, há essa hora já tinha escondido o relógio de pulso pra perguntar se você poderia me informar que horas eram. Você respondeu e eu te entendi dizer que faltavam 15 minutos pra eu ser feliz, na verdade, naquele momento tudo o que me interessava era interagir contigo, pois temia de que, do nada, você desaparecesse da mesma forma que apareceu...
Você começou a rir do meu desespero e aceitou o meu convite para um sorvete. Você recém habilitada e eu com cara de menino que ganhou um vídeo game. Sentamos-nos em uma sorveteria qualquer e você pediu um sorvete de morango e eu também, não porque eu queria aparentar que tinha o mesmo gosto que você, mas porque era o que mais se aproximava com a cor e o sabor dos seus lábios, com aquele rosado sutil de um baton que eu queria tirar da sua boca com a minha boca. Conversamos sobre muitas coisas, você falou em textos jurídicos e eu em textos literários, falava de teatro e você de cantatas natal e estilos de vozes. Percebi que apesar do ambiente cooperar havia uma música terrível que você cantarolava baixinho, perguntei se gostava e me dissestes que não, mas que não sabia por que sempre se pegava cantarolando as músicas que detestava, achei engraçado, todavia você fazia uma cara de quem não estava gostando de nada, contei algumas das minhas melhores piadas, você também não riu e me disse: “não se preocupe, é que tem dia que tudo me irrita... o mundo me irrita”. Fiquei na minha, naquele momento esbocei uma cara triste de emoticon abatido. Tentei mudar o assunto e falar de artes e você me falou da arte de conviver com os idiotas... calei na hora, pensei ter sido comigo... daí você falou: “as vezes tudo o que quero é ficar sozinha”. Levantei-me, pra ir embora, paguei os sorvetes, peguei o troco de chicletes e dei-os a você... quando ia me despedir perguntou-me para onde eu ia, dai eu disse, que iria para qualquer lugar que te fizesse se sentir melhor, porque era onde estava o meu paraíso. Entramos no carro, não falei nada até que começastes a falar, dizendo que tinha dias que nem você conseguia se entender, argumentei dizendo que isso era normal, que você tinha o direito de pensar e ser assim... você riu e disse: “estou com fome, vamos pra minha casa que farei algo pra comer, não sei cozinhar mas eu cozinho”, fui contigo e logo comecei a cortar legumes e verduras, você contou uma história triste de um amigo invisível, e a cebola me ajudou chorar, fizemos qualquer coisa parecida com uma macarronada e fomos pra sala assistir o chaves em Acapulco, apesar de termos assistido quase 50 vezes esse mesmo episódio, ainda ríamos das mesmas piadas. Eu achava ótimo olhar para ti e te ver uma pessoa extremamente natural, dando risada, comendo macarronada e vendo um programa banal. Era como se a deusa máxima do Parnaso tivesse se materializado, saído do trono e estivesse ali do meu lado, agindo normalmente como qualquer criatura que não precisa de muito para ser feliz.
Após a comida eu fui lavar a louça enquanto você fazia um brigadeiro de farinha láctea, e me contava dos seus sonhos de ter uma casa na árvore e saltar de pára-quedas... eu dava risada e acabei te deixando sem graça. Sentamos novamente pra ver TV, (Eu a patroa e as crianças), enquanto você se concentrava na TV, eu me concentrava em você e no desejo ensandecido de te beijar, no entanto pensei, “tudo tem o seu momento certo...” pela porta dos fundos eu vi um lindo campo e lá mais embaixo um maravilhoso lago, você começou a correr e me desafiou a um duelo de policia e ladrão, garantiu que eu jamais te pegaria, corremos feito duas crianças pelo campo e quando finalmente te alcancei caímos, e eu fiquei sobre ti, te olhava nos olhos, com os meus lábios a alguns centímetros dos teus... nossos olhares trocaram frases incompreensíveis e naquele momento entendi que o amor chegara pra mim ao som de my life, my love, my all, com Kirk Franklin cantando ao lado e morrendo de inveja do momento... Te beijei, mas não um beijo qualquer, Um beijo que começou devagar, num estalinho, ao redor, do lado da boca, meio que provando um gosto, saboreando, beijo na trave, um sorriso provocante... após isso um outro beijo, dessa vez, de verdade, gostoso, molhado, com vontade... explorando tua língua, sem culpa, sem medo, apenas beijo, longo e prazeroso, até sentir que não foi só a tua pele que foi beijada, nem tua boca apenas, mas tua alma de forma terna e inocente, com gosto de chocolate branco ao leite, senti que naquele momento te beijava com cada centímetro do meu corpo, você me olhou novamente com um sorriso provocante e disse: “Gostou? Meus pais que fizeram!”, ri da sua falsa modéista, nos beijamos de novo... pararia o tempo naquele momento, se pudesse... nos deitamos, um ao lado do outro, olhando o céu e adivinhando os desenhos das nuvens... de repente, como em um jogo de xadrez, nuvens escuras comeram as claras e começou a chover, tomamos banho de chuva e corremos feito crianças pelas esquinas do coração. Até que você sentiu frio, voltamos pra casa, você tomou banho e depois foi minha vez, sentamos perto de uma lareira para esquentar, a chuva continuava lá fora e dentro jogávamos Uno, 15 partidas, você ganhou 14 e justamente na que eu ia ganhar você espatifou as cartas. Ficamos rindo por um bom tempo, dai o frio aumentou e nos recolhemos em uma grande e confortável poltrona, estávamos sentados e bem abraçados, envoltos em um cobertor, e você nos meus braços falou dos seus medos, da solidão, do fato de que poderia morrer duas vezes, porque sua mãe a mataria acaso você morresse, do medo do bicho papão, de que você às vezes era ansiosa, nervosa e insegura. E eu queria te abraçar tão mais forte que nenhuma força natural pudesse nos separar, queria te dar amor, carinho e atenção... consegui enfim te passar segurança e você, se aconchegando ainda mais nos meus braços, não falou que me amava, porém disse que já não pensava que eu era um psicopata ou serial killer. Contou-me seus pequenos segredos, como arrependimentos do passado, do quanto odiava ficar no vácuo, que trocava bilhetinhos na aula, que morria de ciúmes mas não falava, que já tentou voltar pro mesmo sonho, que sempre se pegava em momentos de de javú, que quando estava encrencada sempre tinha um plano que na maioria das vezes falhava, falou em tempos que não voltariam mais, que odiava salto alto, mas se via obrigada a usar... eu ouvi tudo com muita atenção porque por mais que parecessem bobagens eu adorava saber mais de ti, cada nova descoberta era como se me sentisse ainda mais íntimo, e com uma fútil esperança de que, quando as minhas 24 horas de poder acabassem eu ainda poderia ter você...
As horas se seguiram impiedosas, mais um beijo e todos os meus sentidos e sentimentos foram acesos, ao lado da poltrona que estávamos havia uma cama de plumas e lençóis de fina seda, olhei pra você, olhei pra cama e pra você novamente, te olhei profundamente nos olhos, e sem palavras eu entendi que você dizia: “Hoje nunca, amanhã talvez...”. No meu dia de total poder eu poderia realizar esse último anseio, mas não quis, não queria que fosse assim... lágrimas escaparam dos meus olhos, o cheiro do seu pescoço me embriagava num êxtase de prazer que eu não conseguia esconder, sabia que eu poderia me arrepender mais do que qualquer outra coisa na vida, no entanto sabia que essa não era a minha essência, e sobretudo, o seu largo e belo sorriso me completava, não queria mais nada além de te ver assim, feliz. 23:59 minutos e ainda estávamos jogando conversa fora... você se levantou e disse que tinha uma surpresa para mim... pediu-me para fechar os olhos, todavia não pediu para eu os abrir, depois de exatos um minuto eu reabri e você havia desaparecido...
Minhas 24 horas chegaram ao fim, tudo voltou ao normal, não foi você quem sumiu, foi eu quem voltou as minhas origens, era o meu quarto, a minha cama, o meu travesseiro e os meus devaneios, das 24 horas só a chuva e o frio permaneciam lá fora...
Pensei em tudo antes de dormir, em mim, em você, em nós... e meu último pensamento foi que, se não puder te encontrar, melhor pagar uma passagem eterna, pra viajar num trem que nunca vai chegar a lugar algum, do contrário, na pior das hipóteses daqui a 50 anos poderei te encontrar em um banco de praça alimentando pombos e ao som de Cry da Mandy Moore, dizer que a beleza passou, mas que o conteúdo e os sentimentos ficaram, e que tudo o que quis foi ter você, nas minhas 24 horas de total poder.
Izaú Melo
Há essa hora posso simular situações e contar pro vento os meus pequenos grandes sonhos... queria te encontrar assim, num dia frio, bom para caminhar, te encontrar dentro de uma Biblioteca, comendo batatas fritas e estudando libras, tudo o que eu queria era algo do Pessoa ou do Neruda pra tentar me inspirar, no entanto, tive mais que isso, mais do que o que eles tiveram para escrever, a visão do paraíso, uma linda mulher, de cabelos castanhos claros, (brinquedo predileto do vento), um sorriso largo e encantador, rostinho de criança, com traços artísticos divinamente inspirados, escondidos por trás de um óculos de uma dessas marcas famosas. Usava calça jeans e havaianas, tudo tão natural e ao mesmo tempo mais elegante que os vestidos das senhoritas ricas de dois séculos atrás. No primeiro olhar senti que faltou o chão, no segundo olhar o coração acelerou a tal ponto que senti meu sangue correr veloz nas veias como se fosse em uma pista de autorama, respirei fundo pra que não tivesse um troço e ai senti falta do suco ruim de beterraba que minha mãe sempre quis que eu tomasse pra que eu me sentisse forte. No terceiro olhar, nossos olhares se cruzaram, ai, se existe cupido ele já não usa flecha, e sim uma escopeta de cano duplo, e não atira mais no coração e sim nos olhos e no cérebro, bem naquele cantinho que onde fica a razão e o equilíbrio, porque de tanto te olhar, tropecei numa estante, espatifei livros, chutei um vaso de plantas e derrubei alguns quadros decorativos, nesse momento aparecia você, se eu tivesse vergonha, teria ficado na hora, mas você riu e disse: “Não se preocupe, eu também sou super desastrada.” A partir daquele momento acreditei no amor a primeira vista, você saiu da biblioteca, pensei em te deixar ir e guardar esse momento no meu relicário sentimental, mas não, tomei coragem e fui ao teu encontro, falei qualquer coisa a respeito do tempo e ou do trânsito complicado do fim da tarde, há essa hora já tinha escondido o relógio de pulso pra perguntar se você poderia me informar que horas eram. Você respondeu e eu te entendi dizer que faltavam 15 minutos pra eu ser feliz, na verdade, naquele momento tudo o que me interessava era interagir contigo, pois temia de que, do nada, você desaparecesse da mesma forma que apareceu...
Você começou a rir do meu desespero e aceitou o meu convite para um sorvete. Você recém habilitada e eu com cara de menino que ganhou um vídeo game. Sentamos-nos em uma sorveteria qualquer e você pediu um sorvete de morango e eu também, não porque eu queria aparentar que tinha o mesmo gosto que você, mas porque era o que mais se aproximava com a cor e o sabor dos seus lábios, com aquele rosado sutil de um baton que eu queria tirar da sua boca com a minha boca. Conversamos sobre muitas coisas, você falou em textos jurídicos e eu em textos literários, falava de teatro e você de cantatas natal e estilos de vozes. Percebi que apesar do ambiente cooperar havia uma música terrível que você cantarolava baixinho, perguntei se gostava e me dissestes que não, mas que não sabia por que sempre se pegava cantarolando as músicas que detestava, achei engraçado, todavia você fazia uma cara de quem não estava gostando de nada, contei algumas das minhas melhores piadas, você também não riu e me disse: “não se preocupe, é que tem dia que tudo me irrita... o mundo me irrita”. Fiquei na minha, naquele momento esbocei uma cara triste de emoticon abatido. Tentei mudar o assunto e falar de artes e você me falou da arte de conviver com os idiotas... calei na hora, pensei ter sido comigo... daí você falou: “as vezes tudo o que quero é ficar sozinha”. Levantei-me, pra ir embora, paguei os sorvetes, peguei o troco de chicletes e dei-os a você... quando ia me despedir perguntou-me para onde eu ia, dai eu disse, que iria para qualquer lugar que te fizesse se sentir melhor, porque era onde estava o meu paraíso. Entramos no carro, não falei nada até que começastes a falar, dizendo que tinha dias que nem você conseguia se entender, argumentei dizendo que isso era normal, que você tinha o direito de pensar e ser assim... você riu e disse: “estou com fome, vamos pra minha casa que farei algo pra comer, não sei cozinhar mas eu cozinho”, fui contigo e logo comecei a cortar legumes e verduras, você contou uma história triste de um amigo invisível, e a cebola me ajudou chorar, fizemos qualquer coisa parecida com uma macarronada e fomos pra sala assistir o chaves em Acapulco, apesar de termos assistido quase 50 vezes esse mesmo episódio, ainda ríamos das mesmas piadas. Eu achava ótimo olhar para ti e te ver uma pessoa extremamente natural, dando risada, comendo macarronada e vendo um programa banal. Era como se a deusa máxima do Parnaso tivesse se materializado, saído do trono e estivesse ali do meu lado, agindo normalmente como qualquer criatura que não precisa de muito para ser feliz.
Após a comida eu fui lavar a louça enquanto você fazia um brigadeiro de farinha láctea, e me contava dos seus sonhos de ter uma casa na árvore e saltar de pára-quedas... eu dava risada e acabei te deixando sem graça. Sentamos novamente pra ver TV, (Eu a patroa e as crianças), enquanto você se concentrava na TV, eu me concentrava em você e no desejo ensandecido de te beijar, no entanto pensei, “tudo tem o seu momento certo...” pela porta dos fundos eu vi um lindo campo e lá mais embaixo um maravilhoso lago, você começou a correr e me desafiou a um duelo de policia e ladrão, garantiu que eu jamais te pegaria, corremos feito duas crianças pelo campo e quando finalmente te alcancei caímos, e eu fiquei sobre ti, te olhava nos olhos, com os meus lábios a alguns centímetros dos teus... nossos olhares trocaram frases incompreensíveis e naquele momento entendi que o amor chegara pra mim ao som de my life, my love, my all, com Kirk Franklin cantando ao lado e morrendo de inveja do momento... Te beijei, mas não um beijo qualquer, Um beijo que começou devagar, num estalinho, ao redor, do lado da boca, meio que provando um gosto, saboreando, beijo na trave, um sorriso provocante... após isso um outro beijo, dessa vez, de verdade, gostoso, molhado, com vontade... explorando tua língua, sem culpa, sem medo, apenas beijo, longo e prazeroso, até sentir que não foi só a tua pele que foi beijada, nem tua boca apenas, mas tua alma de forma terna e inocente, com gosto de chocolate branco ao leite, senti que naquele momento te beijava com cada centímetro do meu corpo, você me olhou novamente com um sorriso provocante e disse: “Gostou? Meus pais que fizeram!”, ri da sua falsa modéista, nos beijamos de novo... pararia o tempo naquele momento, se pudesse... nos deitamos, um ao lado do outro, olhando o céu e adivinhando os desenhos das nuvens... de repente, como em um jogo de xadrez, nuvens escuras comeram as claras e começou a chover, tomamos banho de chuva e corremos feito crianças pelas esquinas do coração. Até que você sentiu frio, voltamos pra casa, você tomou banho e depois foi minha vez, sentamos perto de uma lareira para esquentar, a chuva continuava lá fora e dentro jogávamos Uno, 15 partidas, você ganhou 14 e justamente na que eu ia ganhar você espatifou as cartas. Ficamos rindo por um bom tempo, dai o frio aumentou e nos recolhemos em uma grande e confortável poltrona, estávamos sentados e bem abraçados, envoltos em um cobertor, e você nos meus braços falou dos seus medos, da solidão, do fato de que poderia morrer duas vezes, porque sua mãe a mataria acaso você morresse, do medo do bicho papão, de que você às vezes era ansiosa, nervosa e insegura. E eu queria te abraçar tão mais forte que nenhuma força natural pudesse nos separar, queria te dar amor, carinho e atenção... consegui enfim te passar segurança e você, se aconchegando ainda mais nos meus braços, não falou que me amava, porém disse que já não pensava que eu era um psicopata ou serial killer. Contou-me seus pequenos segredos, como arrependimentos do passado, do quanto odiava ficar no vácuo, que trocava bilhetinhos na aula, que morria de ciúmes mas não falava, que já tentou voltar pro mesmo sonho, que sempre se pegava em momentos de de javú, que quando estava encrencada sempre tinha um plano que na maioria das vezes falhava, falou em tempos que não voltariam mais, que odiava salto alto, mas se via obrigada a usar... eu ouvi tudo com muita atenção porque por mais que parecessem bobagens eu adorava saber mais de ti, cada nova descoberta era como se me sentisse ainda mais íntimo, e com uma fútil esperança de que, quando as minhas 24 horas de poder acabassem eu ainda poderia ter você...
As horas se seguiram impiedosas, mais um beijo e todos os meus sentidos e sentimentos foram acesos, ao lado da poltrona que estávamos havia uma cama de plumas e lençóis de fina seda, olhei pra você, olhei pra cama e pra você novamente, te olhei profundamente nos olhos, e sem palavras eu entendi que você dizia: “Hoje nunca, amanhã talvez...”. No meu dia de total poder eu poderia realizar esse último anseio, mas não quis, não queria que fosse assim... lágrimas escaparam dos meus olhos, o cheiro do seu pescoço me embriagava num êxtase de prazer que eu não conseguia esconder, sabia que eu poderia me arrepender mais do que qualquer outra coisa na vida, no entanto sabia que essa não era a minha essência, e sobretudo, o seu largo e belo sorriso me completava, não queria mais nada além de te ver assim, feliz. 23:59 minutos e ainda estávamos jogando conversa fora... você se levantou e disse que tinha uma surpresa para mim... pediu-me para fechar os olhos, todavia não pediu para eu os abrir, depois de exatos um minuto eu reabri e você havia desaparecido...
Minhas 24 horas chegaram ao fim, tudo voltou ao normal, não foi você quem sumiu, foi eu quem voltou as minhas origens, era o meu quarto, a minha cama, o meu travesseiro e os meus devaneios, das 24 horas só a chuva e o frio permaneciam lá fora...
Pensei em tudo antes de dormir, em mim, em você, em nós... e meu último pensamento foi que, se não puder te encontrar, melhor pagar uma passagem eterna, pra viajar num trem que nunca vai chegar a lugar algum, do contrário, na pior das hipóteses daqui a 50 anos poderei te encontrar em um banco de praça alimentando pombos e ao som de Cry da Mandy Moore, dizer que a beleza passou, mas que o conteúdo e os sentimentos ficaram, e que tudo o que quis foi ter você, nas minhas 24 horas de total poder.
Izaú Melo