Não adianta nem continuar tentando
Ainda sendo esse o fim do início
Você nunca vai me entender
Os meus segredos, as minhas razões, os meus motivos,
Por que eu preferia invernos, livros grossos e tardes chuvosas.
Por que eu permanecia em silêncio quando deveria falar
Por que eu sempre tomava o mesmo refrigerante, comia a mesma panqueca de queijo no mesmo lugar.
Talvez você nunca entenda a minha covardia em ir de encontro ao novo
A incoerência de te passar segurança sem me sentir seguro
De te beijar na testa dizendo que tudo iria dar certo, que éramos felizes.
Enquanto eu chorava dos olhos pra dentro e via a infelicidade batendo a porta
Por que que eu sendo a vítima sempre me retratava
Por que me desculpava pelos erros que não cometi
Nunca tente entender por que perdoei coisas imperdoáveis
E me irritei por coisas tão pequenas
O que eu procurava nas músicas que ninguém ouvia?
Nos filmes que ninguém assistia?
Nos livros que ninguém lia?
Por que ninguém conhece meus autores?
Por que Ninguém sabe o refrão das músicas que eu gosto?
Por que meu instrumento predileto é a gaita de fole?
Talvez você não vá entender porque eu via na linha do horizonte apenas a linha do horizonte
E deitado na grama olhando para o céu, eu via as nuvens.
E você dava formas para elas e eu apenas via um pedaço branco de não sei o quê...
Difícil de entender
Mas eu aprendi a decifrar enigmas, todavia nunca entendi o que letras fazem em cálculos.
O por que de ser exatamente aquelas três cores no semáforo.
E essa obsessão de ser um Machado
Talvez você nunca vá entender por que eu ria das piores piadas
E sempre quis a mesma mulher
Tudo isso em uma vida em que eu não gostava de frango, mas engoli muitos sapos.
Enquanto todos querem tudo eu apenas um pedaço
Talvez você nunca vá entender
O por que das cartas que escrevi e nunca mandei para todas as pessoas dos verbos
E ainda espero as cartas que eu sei que nunca vão chegar
Da felicidade sublime que sentia quando estava triste
Do desespero de encontrar uma página em branco e não ter palavras para ela
Talvez você nunca vá entender por que fiz da minha gaveta, túmulo para os meus textos.
E porque nunca repasso aqueles e-mails correntes que recebo.
Por que li 15 vezes o mesmo livro e não paro de olhar aquelas fotografias que já cansaram de sorrir...
...Li tantas vezes porque queria ser o protagonista e olho as fotografias porque elas me lembram de um tempo que eu fui completo quando tinha você por perto.
Não repasso os e-mails correntes porque acho tudo uma grande bobagem
Guardo os meus textos em uma gaveta por achar que não darão a devida atenção para eles (meus filhos).
Sempre quero escrever, mas nem sempre faço porque tenho um medo terrível de uma página em branco.
Sinto-me espectador de mim mesmo quando estou triste e me ver assim me deixa feliz.
Gosto da doce ilusão de receber uma carta de alguém que amo, embora por ser de outro país é mais conveniente mandar um e-mail ou um scrap.
Já escrevi pra bastante gente, mas não acho que elas estejam interessadas em ler.
Nunca quis o muito, apenas o suficiente,
Odeio frango e embora o frango não tenha nada haver com isso, já ouvi e presenciei situações em que tive que sofrer calado pra não perder...
Estou há quase quatro anos com a mesma mulher e a quero pelo menos até que a morte nos separe.
Descobri que as piores piadas são tão ruins que provocam as melhores gargalhadas, talvez a bobagem ou a cara constrangida e sem graça de que as conta.
E a obsessão de ser um Machado... Queria ser o Machado de Assis
E se fosse o meu semáforo ele seria vermelho, preto e branco... As cores do meu tricolor.
Sou bom de desvendar charadas e péssimo em resolver cálculos com letras
E nunca consegui enxergar um animal ou um objeto em uma nuvem,
e a linha do horizonte é só um divisor entre terra e céu.
Gosto da gaita de fole porque além do som maravilhoso não conheço ninguém que me faça inveja por saber tocar
Ninguém conhece o refrão da música Rêve Rouge do Cirque du Soleil e ninguém conhece José Régio.
Sempre tive curiosidade de ver os filmes que nunca saíram das locadoras, de comprar cd’s promocionais, ler os livros que nunca saiam da biblioteca e nesses costumes estranhos, acabava por encontrar verdadeiras pérolas.
Detesto ouvir você falar do seu ex, é mais difícil que perdoar uma traição arrependida.
Quando eu era vítima, ainda assim preferia ficar em silêncio ou pedir desculpas mesmo não estando errado para acabar com aqueles momentos perdidos e incômodos com brigas.
Sempre te falei que ai dar certo mesmo estando incerto e, te passava a segurança que às vezes não tinha pra te fazer alguém melhor e mais forte que eu.
Sempre comia a mesma coisa pra não pedir algo que não iría gostar, a novidade pode ser boa, mas pode ser ruim também.
Sempre preferi deixar a Deus a defesa da minha honra, não gosto de rebater ofensas porque além de me rebaixar ao nível de quem ofende, não me sinto melhor fazendo isso.
Gosto de tardes chuvosas para ficar em casa lendo livros grossos porque eles sempre têm as melhores histórias, e do inverno por me propiciar muitos momentos assim.
Enfim...
Talvez meu maior segredo seja esse, não ter segredos, não ter razões e nem motivos.
Você nunca vai me entender
Já sendo esse o início do fim
Não adianta nem continuar tentando.
Só fique comigo se estiver me amando.
Izaú Melo