Se alguém perguntar
Diga que estou a procura
Das palavras certas para a pessoa errada.
Falarei do que sinto
E ela rirá sarcasticamente
Uma falsa pureza
Uma boneca de neve manchada de vermelho
Um sorriso secreto de quem antecipou as coisas
De quem adiantou o relógio em meia dúzia de quilômetros
E eu? O que faço com esse sentimento?
Se o oculto tenho culpa.
Se o ignoro também.
Se o mastigo sou desumano.
Se choro, sou desumano comigo também
As paredes testemunharam algo que eu não podia ver
O coração teve acesso a informações que não podia ter
Informações vazadas, doces mentiras, verdades amargas.
Uma lâmina cinza na grama verde
Uma espada qualquer em uma bainha especial
Algo que deveria ser preservado
Prazer na terra, um pranto no céu.
Que as nuvens levem o que sobrou do mel
Que as nuvens levem o que restou da noite
Noite de um sorriso mórbido e um olhar sacana
De um terceiro - amor - encontrado aos estilhaços na velha cama.
Quem tem ouvidos para ouvir, tape-os!
Quem tem olhos para ver, arranque-os!
Pois eis que o amor vagueia à noite ceifando vidas
E quando as línguas são lâminas afiadas
Quem tem coração não tem cérebro
E quem possui cérebro atira antes da hora
Mas se só tem coração começa a roleta russa
Com sete balas em um tambor de seis
Uma para cada dia da semana
Que me matem sete vezes
Todavia que não ignorem minha existência
Melhor é ser um cadáver frio
Do que um fantasma sem brio
Rosas, velas e um velório.
Vinho tinto em mais um episódio
Do teatro da tragicomédia
Onde o antagonista veste branco e toma champanhe
E o protagonista veste verde e toma sangue
Em um quarto qualquer de um hospital abandonado
Depois do choque, o derrame sentimental.
Descobriu que seu ouro era ouro de tolo
Que sua fonte de petróleo
Era apenas um cano de fossa estourado...
Há algo com T nesse cemiTério florescenTe
PerfeiTa, deTurpada, uma esTrela cadenTe
ArdenTe, aTraenTe, indecenTe, um presenTe
DisplicenTe, Travestida de inocenTe
AusenTe das sobras do meu conscienTe.
“Não fui não serei, acabou, terminei”
Izaú Melo