Óleo sobre derme

E se eu pudesse te desenhar
Eu usarias os melhores pinceis,
Tintas noctígenas, de estrelas e de lua
Faria traços complexos e surreais
Assim como é o teu sorriso de chocolate branco
O teu olhar de horizontes indefinidos
Desfiro ao encontro deles, olhares vazios que voltam sobrecarregados de sentimentos
Percebo que o teu olhar e minhas emoções falam o mesmo idioma

O teu cuidado e respeito com os vocábulos me fascinam
Até mesmo, quando nada fala me deixa sem palavras, sem argumentos
e eu te desenho, no limiar dos extremos
sendo você as cores que não consigo esquecer
pinto uma paixão com tintas de amor
com traços de prazer ou arrependimento
me pergunto se és de fato um tesouro ou um preço a pagar
Uma candura mítica, atrás de uma vitrine, impossível de tocar
Sem respeitar as técnicas adequadas
Não me importo se pintarei certo, a pessoa errada.

Os meus interesses vão de encontro as tuas virtudes
E de fartos, voltam para dentro de mim... cada vez mais vivo
deixando os meus espelhos ainda mais parecidos contigo
Sirvo meia taça da tua essência e olho a tua composição pela transparência do cristal.
E seu alto teor de inconsistência nitroglicerinada
chegam a mim como acabamentos abstrusos em óleo sobre tela.
Ainda sendo vento, sopre em minhas velas
Ventos de bonanças ou tempestades intermináveis
Invernos rigorosos trazem verões formidáveis

Olho confuso para os traços que pintei
Mesmo sem encontrar sentido acho tudo muito lindo
Mas então porque eu finjo que não acredito no que sinto?
Talvez porque pintar o teu retrato foi como um visgo
Que me prendeu no status verde da vida
Voltei para a casa por sua causa
Sem saber pintar cá estou eu
Escrevendo para você

E agora sem palavras, com Bach ao fundo
Tudo o que tenho a dizer é que me destes um mundo

E enquanto olho confuso para essa realidade paralela
Percebo que trocaria a liberdade pela tua janela

Me escapa um sorriso quando percebo que me renova a verve
E que sou presenteado com uma obra prima, um trabalho impar...
óleo sobre derme.

Izaú Melo