Há algo de estranho nas partidas
principalmente quando elas não possuem despedidas
as coisas vão sendo arrumadas na mala
e com elas, dois mundos outrora ligados, se separam
há algo de morte nas partidas
quando o silêncio é a única alternativa
quando planos não foram concretizados
quando faltou companhia e sobrou solidão
quando se olha pro quarto e se percebe que tudo foi devidamente guardado
que o tempo já passou
e que não há nada que possa me segurar aqui
as vezes sinto vontade de partir de mim
e fugir pra lugares em que minha dor não consiga me achar
difícil de encontrar... sei lá
talvez eu só queira ter mais controle e menos vontade
queria saber dosar meus sentimentos e administrar os meus momentos
e não ficar aqui nessa sala vendo aquele avião que outrora fiquei feliz em ver chegar
e agora, só o silêncio fala por mim
do meu desgosto em voltar pro meu poço
nem sei por quanto tempo passei olhando pra esse celular
esperando ele tocar, que fosse uma chamada ou um sms talvez
daqui a pouco vou desligá-lo e aquela sensação de cerrar a porta do caixão vai tomar conta de mim
dentre os prazeres que não tive
fiquei com as lições mais tristes
que sou intenso demais, que sou deveras óbvio
e que por uma escolha errada
decidi expor quem sou e o que sinto
que talvez leve pra longe o meu equilíbrio
que se importou comigo, que quis me ver melhor
e deixo aqui o que me restou
a certeza do péssimo aluno que sou...
e com o coração cheio, a minha sobrevida me torna assim
sozinho, distante, sem ter quem chore por mim
é hora de partir e entrar no avião
difícil de entender porque
mas o melhor de viajar eu não vou ter
encontrar alguém que estará feliz por me receber...