† de Luto por Cruzeiro do Sul †















Quero abrir um parêntese aqui, esquecer por um dia que há poesia, que há arte, que há vida. Hoje a dor e a tristeza não são meros artifícios para ornar esteticamente mais um de nossos textos literários. Cruzeiro do Sul hoje é uma cidade sem futuro, apenas a certeza de que os próximos quatro anos serão piores do que os anteriores. Como já dizia o sábio, “uma cidade é a cara de quem a governa” e Cruzeiro do Sul é uma cidade suicida, morta com uma faca de dois gumes, a democracia deveria nos tirar do êxodo, sair do primitivo, no entanto apenas nos afundou mais e nos sentenciou a descer novamente alguns degraus rumo ao esquecimento.
“Aprender com o erro dos outros é ser sábio, aprender com os próprios erros é ser inteligente, agora não aprender com nenhum dos dois casos se chama idiotice”, lamento por ser só mais um que depende dessa maioria que gosta de ser ludibriada, um bando de rebeldes sem causa, que elegeriam até o diabo, se ele não carregasse uma bandeira vermelha com uma estrela solitária no centro.
Cruzeiro do Sul conseguiu se rebaixar a menos que a pacata Dogville. Aqui a hipocrisia exala, a pobreza é o maior orgulho dessa gente que assinou embaixo um atestado de povo miserável. Queria acreditar que tudo isso é ingenuidade, todavia quando passo em frente a alguns pontos como bares, paradas de ônibus e filas onde se recebem auxílios, (lugares onde decidem os rumos da cidade), percebo que a maioria dos cruzeirenses não querem empregos, não querem cursos profissionalizantes ou nível superior, eles querem esmolas, migalhas, querem sacolões, passagens, alguns comprimidos e, na pior das hipóteses, um caixão para enterrar seus familiares. Coletividade aqui é uma palavra inexistente no vocabulário da maioria, aliás, se falar em vocabulário muitos perguntarão se isso é bom com farinha. Vivo aqui e sei que a mente da grande parte dos cruzeirenses é moldada nas frases das novelas das oito e dos reality show’s. Algum tempo atrás, formava uma turma de jovens entre 16 e 20 anos, e ao pedir que eles fizessem um memorial sobre algumas das coisas que mais gostavam, pedi que citassem seus livros prediletos e, fiquei chocado por não existir livros prediletos, eram quinze, dois tinham lido pelo menos um livro (não gostaram), os outros se gabavam de não perderem tempo lendo. Acham que acho isso engraçado? Acham que isso não me magoa e envergonha? Ao ver os adolescentes criando suas linhas ideológicas ao som de “piriguete e risca-faca”?
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Cruzeiro do Sul é uma terra maravilhosa, bonita, hospitaleira, tranqüila, de um povo sangue bom, mas que infelizmente não acordaram para as conseqüências de suas decisões, que não sabem o que é cidadania a importância da unidade, a maior parte dos habitantes é que fazem com que ela seja essa aldeiazinha de criaturinhas engraçadas que às vezes pensam que a cabeça só serve pra separar as orelhas, que estão satisfeitos em terem suas casinhas, uma TV para os manipular, e o orgulho de serem a oposição do crescimento, inimigos do desenvolvimento. A preguiça de pensar deu razão ao autor da carta quando disse que “a mentira fortalecia”, afinal quem crê em aleivosias é quem não teve coragem ou disposição de perder algum tempo em busca da verdade. Um povo que não têm opinião própria e que carrega no peito e na mente o “disse-que-me-disse-que-lhe-disse”. Que se comovem no ato heróico de saber que o concunhado, da enteada, da empregada da Maria, da vizinha do João ganhou uma passagem pra fazer tratamento na capital.
Daqui a pouco serei vítima de críticas como muitos que expressaram sua opinião o foram. Mas diferente dos outros eu vivo aqui, e falo com certa propriedade, jamais negarei as raízes cruzeirenses e o quanto meu povo apenas se ofende e não quer enxergar a verdade, não conseguem ler nas linhas críticas o mapa para a emancipação, não querem mudar porque acham mais fácil por embaixo do tapete de retalhos ou nas brechas do assoalho. Amo Cruzeiro do Sul, mas odeio a arrogância, a ignorância e quem faz delas seu maior oportunismo.

Izau Melo
05/10/08


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