Mil Defeitos


Madrugada de quarta como tantas outras
permaneço acordado enquanto todos dormem
dessa vez contra a vontade
o sono me toma, me pesa as pálpebras
mas a vontade de escrever queima aqui dentro
e buscando respostas para o seguinte questionamento...
Se devo ceder aos desejos do coração ou as necessidades fisiológicas...
antes que me venha a resposta...
cá estou escrevendo, mesmo sem argumentos
desarmado, rendido
pela primeira vez, estranhamente, me sinto dicotômico
dois sentimentos contrários brigam por espaço nas vielas do meu coração
pela primeira vez não sei que direção tomar
não sei se pago o preço da liberdade
ou se quero para mim a segurança de quem não arrisca nada
Esperança é um dom e uma desgraça
e sentimentos não correspondidos nos provam que somos inferiores aos outros animais
Porque no amor o controle é por direito de quem ama menos ou não ama nada
Quem tem grandes aspirações deve se preparar para grandes sofrimentos
A importância do ser amado é do tamanho do que sentimos em relação a eles
Sentimentos são mais complexos do que física quântica e geometria espacial
e a ciência é exata porque ficou com a parte mais fácil
boticários, alquimistas reconheçam seu fracasso
A droga é forte quando o sentimento é fraco
Milhares de anos e o homem não conseguiu entender muito menos curar o seu mal maior

não sei de fato o que você significa pra mim,
vírus ou antídoto
Morte ou vida
a porta mais larga para o sofrimento é gerar expectativas
e a pior hora é a despedida
e a morte é pra quem fica
o pesar é pra quem perde
e a dor é de quem escreve

escrevo pra proteger minha sanidade e te manter viva e pulsante assim
escrevo pra liberar as toxinas, desse amor de vira-lata
Produzido em larga escala dentro de mim
das opções que penso que tenho, decido escrever
só pra me enganar achando que ainda tenho esse controle
talvez eu não quisesse escrever
talvez eu quisesse dormir
talvez eu quisesse esquecer
mas se pudesse escolher
corrigiria os mil defeitos enfim
que você diz odiar em mim.

Izaú Melo