Latidos


A canoa que hoje remo com sacrifício já foi meu barco de diversão.
Nos fins de ano os belos fogos de artifícios, antes meu encanto, agora abalam meu coração.
E a bela moça com quem sonhei ter belos filhos, escolheu outro e outros filhos e eu fiquei sem atenção.
E tantas moças e tantos vícios que amei mais que amor de filho e o amor por mim perdi então.
E perdi tanto que perder perdeu sentido e quando estava no vazio eu escutei meu coração.
Já cansado, mas destemido meu coração me disse "amigo quem teme a vida nem precisa temer a morte, pois ainda que pareça forte és morto-vivo vivendo em vão."
Então minha canoa mudou e se fez barco a motor.
Meu coração com os fogos nunca mais se abalou.
E outra moça com quem sonhei, dessa vez me olhou.
Perdi a rima, mas recuperei o amor próprio.
Perdi o medo da vida e voltei a andar sóbrio.
Perdi o medo da morte e ganhei a imensidão.
Pois a vida bem vivida vem da voz dos latidos do coração.


Marcelo Siqueira