Sou um menino de recados
Dos ventos e das nuvens trago
relatos
Um mensageiro celestial
Dos que falam das coisas da
alma
Não trago noticias da casca,
Não sei nada da pele, de
maquiagem e nem da matéria
Não conheço marcas, etiquetas
ou cédulas
Sou de um tempo em que ainda
não tinham dado preço pra tudo
De uma época em que a palavra tinha mais valor que um contrato
surdo
Estou cheio do sentido que te
faz falta
Me sobra as respostas sobre
as quais não sabes tu de nada
Sou, por assim dizer, o
último parágrafo do livro que lias
Daqueles que ao terminar não
soubestes mais o que fazer da vida
Interpreto o canto dos
passarinhos
Ao lado do meu gohonzon, toco o sino
Do cometa, sou o canto
perfeito
Da tempestade, trago o ar rarefeito
Da tempestade, trago o ar rarefeito
Trago um presente para o teu passado
Um feriado para o teu maior
cansaço
um elogio para o teu esforço
um sorriso para o teu
desgosto
Para os teus murmúrios trago
um beijo
Para a tua goiabada, um
queijo
Trago um trevo para a tua má
sorte
E pra quem está sozinho, de
repente, trago um consorte
Para o teu sono, trago uma
cama
Para a tua angústia, trago um
mantra
Para quem tem fome, trago uma
laranja madura
No bolso, trago um arco-íris
pra conter a chuva
Pra quem acorda cedo, trago
uma Sol maior
Pra quem espera pra sair do
trabalho, dou um Dó menor
Trago um trago para as tuas
mazelas
E para o desemprego, páginas
amarelas
Te dou um vale bom sonhos
quando estiver dormindo
Em troca do teu Eu sozinho,
por um nós domingo
Para um dia frio, trago
cobertores e livros
Para um dia quente trago o
mar
E um navio para você ver
passar
Enquanto eu também passo
Do infinito ao ocaso
Da carne, de anseios e
desejos
Fiz destes, meu maior ensejo
Ao conhecer a tua humanidade
Quis entender a tua liberdade
Pelo pudor, me tornei impuro
Pela mortalidade me tornei inseguro
Pelo vinho me embriaguei
Pelo teu olhar me apaixonei
Das nossas escolhas ficam as
saudades, e o arrependimento
Se tens por mim, demonstre
agora teus sentimentos
Ao invés deles, reinou o
silencio
Difícil é não saber terminar
Quando já não se tem mais
nada a falar
Agora só falo do tempo, da
solidão e dos novembros.