Tinta e pena contra Atenas
Aventura do menestrel suicida na terra dos imortais
I
Eu ainda lembro-me dos meus primeiros erros
Quando comecei a mover certo as pedras erradas
Quando ouvi as lendas e consultei os mapas
Saindo do nada, me veio a loucura de acreditar que dava.
Taverneiros que me diziam que pra crescer
Eu deveria sair e buscar o paraíso longe de casa
Percorrendo, bosques, pântanos, abismos e florestas.
Eu procurava o novo horizonte...
Fazer a coisa certa
Cegado pelos meus próprios desejos e ambições
Quebrei as regras, infringi as leis.
Ignorei placas de avisos, conselhos dos sabidos.
Pulei muros, não ponderei diante das bifurcações.
Troquei a bússola por intuições
Naveguei doce por águas salgadas
O que se erguia pra impedir, sem excitar, eu derrubava.
Não temi os perigos, não avaliei as pegadas, (que sempre iam e nunca vinham).
Eu não tracei metas, não observei a posição das nuvens nem as fases da lua.
Como todo bom aventureiro eu só tinha o objetivo, só tinha a paixão.
II
Mas eu a alcancei
Encontrei a taça, eu experimentei o néctar dos deuses.
Por alguns segundos os meus lábios saborearam a imortalidade
Eu finalmente entendi o paraíso, mesmo sabendo que ele não pertence aos mortais.
Do cimo eu via os portões...
Porém sem armas, sem estrutura, sem argumentos para tentar avançar...
Decidi regressar
Voltei pra casa ressentido, esqueci a vitória, o sonho alcançado, o alvo atingido.
Com a cabeça no travesseiro, só consigo pensar no que há além dos portões.
De repente o meu final se transformou em um novo início
Mesmo com meu dever cumprido, permaneço reprimido.
Por levar no coração o que tenho apenas na mente, uma réplica abstrata do que quis fisicamente.
Difícil fazer esse caminho de volta, olhando pessoas que dizimei e convicções que lancei fora.
III
Honra ao mérito, entrei para o grupo seleto dos que experimentaram o sabor da vitória.
Dos que viram os portões da terra prometida, que mana mais que leite e mel.
Sinto-me herói de mim mesmo, mas afinal o que me resta.
Mais desejo, menos satisfeito e mais inveja,
Inveja dos guerreiros que adentraram os portões, que conquistaram a prometida terra.
E que, mesmo por um curto espaço de tempo, fizeram morada nela...
E alcançaram a imortalidade
Quem? Eu? Um dia... quem sabe...
Agradecimento especiais a todos os que me ajudaram
Alguns ficaram... outros passaram...
Aos que duvidaram; aos que acreditaram
Aos que morreram e aos que me mataram
Queria que soubessem que eu consegui
O que vou fazer agora? Não sei...
Izaú Melo