Nessas próximas linhas que eu não mereço , falarei de minha dor. Hoje, depois de me olhar no espelho e ver não mais que o reflexo de um bagaço poético de laranja eu me questionei, sou eu um artista? Penso que não, nem escritor, nem poeta, tampouco artista, talvez só mais um que expressa o que sente...
Depois de quase um ano sozinho, e com uma esperança depositada em contatos que já não falam, não twittam e raríssimas vezes atendem o celular descobri que não sou artista...
Talvez eu tenha algumas características, sensibilidade aprimorada, ouvido apurado, boas influências, uma forma especial de canalizar as minhas emoções e transformá-las em palavras, mas isso não me faz um artista...
O artista deve estar sempre pronto, com um trunfo na manga mesmo quando pego de surpresa... eu não, hoje tentei escrever e nada me veio em mente, e isso fez com que eu me sentisse fraco e limitado, então resolvi folhear alguns clássicos...
Manuel Bandeira! Me leve pra Pasárgada! Álvares de Azevedo, apresente-me ao Macário, dê-me o endereço da taverna! Alguém por favor peça pro Neruda falar comigo, me contar quais os ingredientes para o feitiço, de escrever tão bonito, e como o Pessoa escolhia sempre as palavras certas para se expressar, mesmo quando em sentimentos errados...
Não me dói dizer que estou triste, de uma tristeza de quem não sabe onde está, de onde veio e para onde vai... de não saber em que século ficou perdida a minha razão, por que sou assim tão diferente de todo mundo, porque a melancolia decidiu me escolher... talvez pra fazer de mim um profeta que escreverá mesmo sem querer o seu evangelho...
Definitivamente essas não eram as palavras que eu queria escrever, queria manter o ritmo, falar de coisas boas e agradáveis, continuar divagando pelos acordes da minha doce paixão, mas hoje, sem isso, revelo exatamente quem sou, uma pobre criatura que perde sono falando de um sofrimento que não quer passar...
Hoje não tem rimas, máximas, realismo fantástico e as palavras certas com as quais meus leitores se idenficam... hoje só os meus lamentos...
Porque sem inspiração eu sou só um desperdiçador de palavras, e se uso reticências a cada fim de parágrafo é porque realmente não sei o que dizer...
Hoje eu tinha um título, A vida secreta dos relógios, mas me faltou argumentos e os poucos que tive faleceram antes de se tornarem palavras, como um aborto intelectual. Hoje as duas mulheres que mais amo estão querendo me matar, a primeira por negligência e agora a Norah Jones com essa música que não parece acabar...
Lembrei agora das coisas que não passaram... dos textos não comentados, de como eu nunca tinha onde escrever quando as minhas melhores idéias chegaram, de quantas vezes eu traí a literatura quando recebi o sinal verde pra ser feliz e assim como um semáforo ele passou rápido e me deixou exatamente como estou...
É estranho dizer que me sinto só, e que minha solidão mais parece um cobertor com quem dormirei esta noite. Nesse momento penso nas melhores coisas que já me aconteceram, das pessoas que me fazem bem e dos momentos que de tic eu não queria ouvir o tac, que eu não queria que passasse, mas nem isso é forte o suficiente pra fazer com que me sinta melhor, a solidão é estranha, na calada da noite, me parece suburbana , por mais que seja algo ruim, ela tenta me mostrar uma satisfação alternativa e eu sempre acabo tomando mais uma dose, mas não a quero pra mim...
Já não me importa os clássicos, pro inferno com as maiores obras literárias de todos os séculos, se preciso for largo mão dos adágios bachianos, dos teatros da tragédia, do gymnopedie e dos estudos em notas menores... beije os meus lábios e eu faço fogo com todos os meus ensaios...
Quanto custa pra ser feliz? Talvez mais caro do que as minhas moedas possam pagar... talvez mais complexo do que o meu raciocinio possa calcular. No final das contas não sei o que acontece... não quero deixar de escrever, eu tenho as palavras, mas me faltam os motivos...
Sinto vontade de morrer, no entanto sou covarde demais pra isso, portanto, por mais que eu esbanje a frieza de um homicida, tudo isso nao passará de um ensaio para cartas de um suicida...
Izaú Melo
Madrugada do dia 30/11/09
Ensaio para cartas de um suicida
05:54:00
Izau Melo †