
Se me faltassem apenas alguns minutos para a morte
Estaria aqui como estou agora
Ouvindo as mesmas músicas
Relembrando as mesmas coisas
Reescrevendo os meus melhores momentosJá não iria fazer questão da sua companhia
Passei a vida inteira querendo isso
Mas hoje, já não faz o menor sentido
Hoje sou apenas meu.
É minha dor, são minhas lágrimas, é minha viagem.
Lembro quando tudo o que tinha de melhor
Não valeu nada para te segurar do meu lado.
Poderia ter me poupado, se tivesse injetado a overdose de auto-estima.
em vez dos muitos goles desse veneno malicioso do amor.
Poderia ter atirado meus sonhos na primeira lata de lixo que encontrei.
No entanto todas as ruas que vinham, agora, apenas vão.
E já não vejo as latas porque agora estou dentro de uma delas.
Poderia ter colocado um nariz vermelho
e feito uma piada sem graça pra me sentir menos idiota.
Pra ganhar uns trocados para essa viagem sem volta.
Você deu vida a minha morte e trouxe o inverno impregnado na sua voz.
Falando tudo o que eu pensei que suportaria ouvir.
Quando me negou amor e me deu o bilhete do trem
A sua frieza despertou-me o riso, o riso ensandecido de quem perdeu o sentido
O seu silêncio despertou a besta suicida dentro de mim
Sozinho aqui nessa gélida estação, tive que queimar minha moral pra me aquecer.
Tive que amputar as mãos pra não ter que empalar o coração
Para não fenecer, tive que esquecer.
O que você estará fazendo agora?
Com quem está agora?
Estará sozinha?
Houve um tempo em que isso realmente me importava
Hoje são cinzas de um grande sentimento
De uma terrível dor
Assim começa o limiar da segunda morte
Um monólogo paliativo, esquecido no vento.
Enterrei meu amor nos túmulos crassos do tempo.
Esse é o canto gregoriano do fim da tarde
Hoje parto sem deixar saudades
Foram vinte e poucos anos
E alguns momentos pra levar na bagagem
logo que subir naquele trem vou perguntar o porquê das maremotos, terremotos, tsunâmis, das sextas-feiras, meia-noites e pentagramas
O porquê dos amores não correspondidos.
Se me faltassem apenas alguns minutos para a morte
Estaria aqui como estou agora
Sem mais nada pra escrever
Pensando em como você reagiria
Se dissesse eu te amo e não ouvisse o mesmo.
Se resolvesse ficar comigo quando o trem já tiver partido.
é a demora entre o pulo e a queda
entre o gatilho e o disparo
entre a dor e o grito
entre essa vida e o outro lado.
...mas agora é tarde, é nesse trem que eu parto...
Izaú Melo
02/05/2008
Dia do Meu aniversário