Não quero as metáforas, eu não quero a poesia, tampouco a arte
Eu só quero o natural, o espontâneo
Dê-me uma porção do simples, meia xícara do óbvio, duas doses do clichê
Para dizer que, como todo mundo eu me apaixonei
Mas não da forma como todo mundo se apaixona
Geralmente pelo que vê
A minha paixão foi nutrida pelos detalhes
As frases complexas, o ar de mistério, os argumentos, as incertezas, as fraquezas travestidas de força de independência, do costume de sempre ter razão
Eu não acreditava
quando o inesperado me saltou aos olhos
Pela primeira vez eu te vi, assim, quando já não esperava, quando não mais planejava
Há algo avassalador que torna algumas surpresas agradáveis
Entrei em erupção quando os meus olhos encontraram os teus
Meu olhar acariciou o teu rosto da forma mais terna possível
E o meu sorriso convidou os teus olhos para dançar
E a minha mente te despiu por completa
De repente uma batalha insana
Palestinos e israelenses guerreando dentro de mim
De um lado o desejo, invadindo, saqueando, lançando granadas, o meu sentimento querendo partir pra cima de ti, conquistar territórios, se aproveitar da fragilidade das tuas defesas...
Do outro a minha razão, te defendendo, construindo imponentes muralhas pra reter tudo isso
Enquanto uma revolução explodia dentro de mim
O meu corpo permanecia inerte
Você nunca entendera o que realmente acontecia comigo
Mas os trinta centímetros que nos separava, era tudo e não era nada
A mente tem liberdades que o corpo não possui
Me imaginei te abraçando, sentindo cada detalhe dos detalhes que fazem do teu corpo o mais bonito
Minha mão acariciando a tua tez, sussurando no teu ouvido
Promessas que não teria a menor dificuldade em cumprir
Porque o amor torna as coisas muito fáceis
E continuei assim
Sentindo o cheiro agradável dos teus cabelos, puxando o teu corpo pra mais junto do meu
Beijos cadentes, minhas mãos marcando territórios pelos teus ombros, pescoço e costas
A maciez da tua pele como finos lençóis de algodão em noites frias
Nos teus lábios um sabor de estrelas e tua saliva, um néctar etereal
Imagino se pudesse ler os teus pensamentos
Como seria, de que forma eu reagiria...
Se continuaria a avançar ou se pararia
No entanto esse foi o apenas o primeiro toque, a ocasião que me deu sentido
Quando, pela primeira vez, a luz dos olhos meus fez amor contigo.
Izaú Melo