O Perfume


Parecia ter sido só mais do mesmo... a causa do efeito.
Parecia não passar de um encontro trivial, supérfluo... páginas antigas de jornal.
Um gesto simples, um aperto de mãos, talvez um beijo na face, algo sem grande proporção.
Bem mais frágil do que o frágil. Além da suavidade da mão, além do atrito.
Do tocar o infinito...
Ou Talvez o prazer de tocar o prazer, ou simplesmente o perfume do X, do Y, do Z.
Que deveria ser apenas uma fragrância agradável, convincente.
Uma aura suave que envolvia-lhe o corpo suavemente,
No entanto havia algo que o tornara mais que isso, talvez a combinação impecável.
A harmonia perfeita entre o perfume e a pele, da casca e o cerne.
Transformando o aroma em algo capaz de aguçar todos os meus sentidos.
Pelo teu perfume pude me imaginar...
Nos seus braços, um abraço, no espaço do acaso.
Nos teus lábios, um beijo, o sabor, um desejo...
Em suas mãos, um carinho materno, tão terno, eterno.
Nos seus cabelos, o vento, rebento, o frescor dos puros sentimentos.
Pelo perfume imaginei teu corpo, as curvas, o perigo, meu desejo... um abrigo.
Teu sorriso a me instigar, provocar, me sentir, desmentir a fútil impressão de encontrar alguém melhor.
Minha imaginação agora em fragmentos e sortilégio de sentimentos.
São pensamentos, em silêncio, aguardando um movimento... Xeque-Mate!
Parabéns! Ganhastes! Meu coração é teu, e o prazer indelével do teu perfume é meu.
Teu perfume me fez dormir, sonhar, fugir, arrebatar.
Para um outro lugar, repleto de rosas... rubro e casto mar.
Os pássaros orquestram, as árvores dançam a coreografia dos ventos, as flores te louvam.
Ali mais adiante é o céu, do azul, do amor, do manar leite e mel.
Creio que aqui seja o jardim, vasto, insano, belo... sem fim.
Um sonho do qual não quero acordar, diminuir, sair... passar.
Um sonho que quebra o paradoxo do paralelo:
realidade e ilusão, amor e paixão, de gotas e grãos.
Que cresce, floresce, materializando-se aqui no meu coração.
No mundo real, formal, animal... verdade anticoncepcional.
E sempre será assim, delirante, fascinante... de jasmim.
Mesmo distante, estarás sempre presente
Teu perfume tatuado em mim.
E quando tua fragrância esvair-se da minha derme,
De mim só restará o triste privilégio de lembrar
E as lembranças que amargamente guardarei do meu medo de voar.

Izaú Melo